Terapia Fotodinâmica na Endodontia

O tratamento endodôntico de dentes necróticos tem como objetivo restabelecer a saúde periapical através da desinfecção do sistema de canais radiculares.1 

A desinfecção promovida pela terapia endodôntica convencional, geralmente se dá pela limpeza e modelagem dos canais radiculares, por meio da instrumentação com limas manuais ou rotatórias, associada com a irrigação de substâncias químicas auxiliares e uso de medicação intracanal.2  

Entretanto, mesmo quando os procedimentos de limpeza e desinfecção forem bem planejados e executados, o tratamento endodôntico convencional poderá apresentar falhas devido as variações anatômicas e as características da infecção microbiana, tanto no interior do sistema de canais, como na região periapical. Apesar das substâncias irrigadoras atuais, e das medicações intracanal disponíveis apresentarem efetividade na maioria dos casos, o nível de insucesso desta técnica, apesar de baixo, ainda existe e abre espaço para que a comunidade científica procure novas alternativas para a redução de microrganismos intracanal.3  

Diversas técnicas podem auxiliar na redução da microbiota nos sistemas de canais radiculares durante o tratamento endodôntico com o propósito de minimizar o risco de reinfecção. Dessa maneira, a terapia fotodinâmica surgiu como alternativa coadjuvante aos tratamentos endodônticos convencionais na tentativa de eliminar microrganismos persistentes ao preparo químico-mecânico.4   

Do inglês, Photodynamic Therapy (PDT), baseia-se na associação de fotossensibilizadores e uma fonte de luz específica, como o laser de baixa potência (SCHAEFFER, et al., 2019), que na presença de oxigênio, gera radicais livres tais como o oxigênio singleto, capaz de penetrar nas células dos micro-organismos causando destruição tecidual de forma rápida sem causar danos aos tecidos adjacentes e nem resistência bacteriana.5,6  

Assim, a PDT é um processo fotoquímico de fácil e rápida aplicação clínica, em que a excitação eletrônica do sensibilizador provoca dois mecanismos:7 

  • Tipo I – transferência de elétrons: Onde há formação de produtos oxidados e ocorre em cerca de 5% da reação; 
  • Tipo II – transferência de energia: Ocorre em 95% da reação, responsável pela apoptose que se torna diferente da necrose, pois não provoca injúria aos tecidos adjacentes. 

 

Dentre os agentes fotossensibilizadores mais empregados na PDT, destacam-se os derivados fenotiazinas, que são compostos heteroaromáticos tricíclicos, corantes azuis, como o corante azul de toluidina e o azul de metileno. Esses corantes são solúveis em água e álcool, têm característica eletrocatalítica, além de possuírem boa absorção à luz. São capazes de gerar espécies reativas de oxigênio e causar um amplo efeito em várias bactérias, sendo eficientes no uso de laser de emissão vermelha.7 

Ao determinar a fonte de luz para executar a PDT, deve-se observar o tipo de agente fotossensibilizador e juntos devem gerar uma potência de luz adequada ao comprimento de onda utilizado. O laser ainda é a fonte mais utilizada, seguida dos díodos emissores de luz (LED) que apresentam efeito semelhante e excelente custo-benefício. Dentre os lasers destaca-se o laser de diodo, emissor de luz no comprimento de 630-690 nm, que demonstra grande infiltração de fótons no tecido celular e, difere do infravermelho na qualidade de que é mais fácil de encontrar fotossensibilizadores que apresentem esse pico de absorção.4,6,7 

É necessário o uso de uma fibra óptica intracanal para que a fonte de luz interaja melhor o fotossensibilizador e garanta maior alcance da fonte de luz dentro do conduto radicular.4,6 

O protocolo de atendimento e realização da terapia fotodinâmica:

  1. Anamnese, diagnóstico e planejamento do caso (figura 01); 
  2. Preparo químico mecânico do canal radicular; 
  3. Secagem do conduto, e início da terapia fotodinâmica com irrigação do canal com agente fotossensibilizador azul de metileno 0,05% e tempo de sensibilização de 5 minutos (figura 02); 
  4. Irradiação por meio de fibra ótica (figura 03) com laser emitindo no vermelho com comprimento de onda de 660 nm, uma irradiação por conduto com energia de fluência de 9 J/cm² (figura 04); 
  5. Secagem com cone de papel absorvente seguido de protocolo de irrigação final ao tratamento endodôntico. 

Figura 01 Abcesso dento alveolar crônico dente 37 (fonte própria).

Figura 02 Irrigação do canal com agente fotossensibilizador azul de metileno 0,05% (fonte própria).

Figura 03 Fibra ótica (fonte própria).

Figura 04 Irradiação com luz laser vermelha (fonte própria). 2

Referências

  1. Kosarieh E, Khavas SS, Rahimi A, Chiniforush N, Gutknecht N. The comparison of penetration depth of two different photosensitizers in root canals with and without smear layer: An in vitro study. Photodiagnosis Photodyn Ther. 2016; 13:10-14.  
  2. Rosa TP, Signoretti FG, Montagner F, Gomes BP, Jacinto RC. Prevalence of Treponema spp. in endodontic retreatment-resistant periapical lesions. Braz. oral res. 2015; 29 (01). 
  3. Plotino GNM, Grande NM, Mercade M. Photodynamic therapy in endodontics. International Endodontic Journal. 2019; 52, 760–774. 
  4. Pinheiro SL. et al. Antimicrobial Activity of Photodynamic Therapy Against Enterococcus faecalis Before and After Reciprocating Instrumentation in Permanent Molars. Photomedicine and Laser Surgery. 2016; vol. 34, n. 12.  
  5. Lacerda MFLS. et al. Avaliação das mudanças morfológicas de dentições ao tratamento endodôntico e a terapia fotodinâmica. Rev. Odontol. UNESP. 2016; vol.45, n.6. 
  6. OLIVEIRA RF, et al. Terapia fotodinâmica associada a laser no tratamento endodôntico. Arch Health Invest. 2021. 10(2):236-240 
  7. ALFENAS CF. et al. Terapia fotodinâmica na redução de micro-organismos no sistema de canais radiculares. Rev. bras. odontol., Rio de Janeiro. 2011; v. 68, n. 1, p. 68-71

Professores

Profa. Daniela Taguatinga

Prof. José Ricardo

Profa. Dra. Kely Bruno
Coordenadora